sábado, 28 de julho de 2012

ESPECIAIS - CORINTHIANS RECORDA O TÍTULO PAULISTA DE 1988


Há momentos no futebol em que uma série de fatores, sejam eles político-econômicos ou esportivos, acarretam o insucesso de equipes. A ascensão de novos personagens é a primeira opção. O corinthiano se acostumou com a promoção de jovens do terrão ao longo da história do Clube do Parque São Jorge. Numa ação conjunta entre a diretoria e o técnico Jair Pereira, o elenco alvinegro, que não havia tido um bom final de 1987, passou por uma reformulação que levou o Clube ao 20º título paulista em 1988. Nomes como o do goleiro Ronaldo, do zagueiro Marcelo Dijan e principalmente do menino Viola foram do anonimato para a história alvinegra. Nesta terça-feira (31), o Corinthians comemorará os 24 anos da conquista em cima do Guarani. Para isso, o Timão preparou um especial em parceria com a Placar.
Após o sofrível final de 1987, a reformulação do elenco se tornou necessária. Com a convocação de jogadores alvinegros à Seleção Brasileira e algumas lesões, os juniores do Timão entraram em cena. Desacreditado, o Corinthians iniciou a campanha pelo Paulistão no final de fevereiro de 1988. O primeiro jogo, contra o São Paulo, no estádio do Morumbi, provou que as mudanças não teriam resultados tão adversos assim. A estreia em partidas oficiais do goleiro Ronaldo, futuro ídolo da Fiel, foi a maior prova disso. Numa época em que o Corinthians contava com Carlos e Valdir Peres, o jovem goleiro aproveitou a primeira brecha para mostrar que estava pronto para assumir a camisa 1. Com Carlos convocado para a Seleção Brasileira e a saída de Valdir Peres, o menino Ronaldo defendeu um pênalti de Darío Pereyra e ajudou o Timão a vencer o forte São Paulo por 2 a 1.
Antes de adentrar os números e histórias que consagraram o Corinthians na disputa do campeonato, é preciso voltar a um dado constantemente divulgado de maneira equivocada. O Campeonato Paulista de 1988 foi organizado em dois grupos de 10 equipes que jogavam todas entre si. Ao final da primeira fase, os quatro primeiros de cada grupo se classificariam e formariam outras duas novas chaves com quatro times cada. Nos grupos com quatro equipes, seriam realizados seis jogos, em sistema de turno e returno. Os dois times com as maiores pontuações jogariam a grande decisão.
O Timão deveria jogar 19 partidas - 20 participantes no campeonato - na primeira fase. Porém, muitas fichas técnicas insistem no número de 21 jogos. A confusão de registros históricos se deve ao rebaixamento de Ponte Preta e Bandeirante de Birigui à segunda divisão em 1987. Brigando na Justiça para permanecer na elite, as duas equipes do interior chegaram a entrar em campo mesmo com a recusa de todos os times da competição, exceto um, o Corinthians, por ordem do Presidente Vicente Matheus. O fato é que a campanha que culminou no título do Timão teve 14 vitórias, nove empates e quatro derrotas. Somente pela na fase inicial, foram 11 resultados positivos que deram ao alvinegro o primeiro lugar do grupo, seguido pelo Guarani.
Apesar de jovem, o renovado elenco era valente. No último jogo da primeira fase, contra o América, em São José do Rio Preto, caso o Timão perdesse, cairia num grupo considerado mais fácil. Se vencesse, enfrentaria São Paulo, Palmeiras e Santos. Com o empate em 1 a 1, o Corinthians teve seis difíceis clássicos antes de chegar à grande decisão com o Guarani. O primeiro contra o São Paulo foi do jeito que a Fiel gosta. Um empate em 2 a 2, no final do jogo, com dois gols de Éverton. Depois vieram mais outros três empates, dois contra o Palmeiras e outro com o São Paulo. As duas vitórias que levaram o Timão à final foram contra o Santos.
As grandes decisões contra o Guarani
Os dois jogos finais contra o Guarani foram um capítulo à parte na história do Clube do Parque São Jorge. Os jogos somados levaram aproximadamente 128 mil torcedores aos estádios do Morumbi eBrinco de Ouro da Princesa. Mais uma vez, a Fiel fez a diferença e simplesmente proporcionou uma verdadeira invasão à Campinas para o segundo jogo decisivo. A primeira partida, no dia 24 de julho, no estádio do Morumbi, levou pouco mais de 77 mil pessoas. O Guarani tinha uma equipe poderosa com jogadores como Ricardo Rocha, Paulo Isidoro, Boiadeiro, Evair, João Paulo e Neto. O então bugrino Neto - futuro ídolo da Fiel - marcou o primeiro gol da decisão aos 45 do primeiro tempo em uma bela bicicleta. Édson empatou para o Timão logo no início da segunda etapa. O resultado era amplamente favorável ao adversário, já que jogaria em casa e teria a vantagem do empate mesmo após uma possível prorrogação.
A segunda partida em Campinas quebrou todas as expectativas da imprensa na época. Após empatar fora de casa, o Guarani estava ainda mais perto de conquistar o título paulista diante de sua torcida. As ausências de Edmar, o artilheiro da competição, convocado à Seleção, e Marcos Roberto, lesionado, foram o grande pretexto para a ascensão de um personagem: Viola, que havia entrado na primeira final, foi escalado como titular. O Timão suportou a pressão bugrina durante todo o tempo regulamentar e levou o jogo para a prorrogação. Com jogadores sentindo câimbras, logo aos cinco minutos a tradição e a raça alvinegra falaram mais alto no Brinco de Ouro. Após passe de Marcelo Dijan, Wilson Mano tentou o chute de fora da área. Sem direção, a bola acabou encontrando Viola, que apenas empurrou para o gol. Só restou a ele correr para os braços da Fiel, jogar a camisa para a torcida e iniciar seus passos como ídolo corinthiano.O ano de 1988 entrou mais uma vez para a história do Timão. O clube do Parque São Jorge que já havia ganhado o Campeonato Paulista no centenário da Independência do Brasil, em 1922, o Campeonato Paulista no IV centenário de fundação da cidade de São Paulo, em 1954, conquistou o 20º título paulista no centenário da libertação dos escravos em 1988. 
Confira a entrevista do capitão do título em 88, o ídolo Biro-Biro:
Como foi o processo de promoção dos jovens ao time profissional em 88?
Tivemos muitos jogadores que subiram de categoria naquele Paulistão. O Ronaldo e o Viola, por exemplo. O Jair Pereira, nosso técnico na época, era maravilhoso. Sempre conversava muito comigo e com eles. Como eu era o capitão, procurava ajudar muito a garotada que subiu  dizendo a eles que estávamos juntos naquela proposta.
Você orientava alguém ou tinha certeza de que um deles se consagraria ainda naquele campeonato?
O Viola foi muito bem e chamou a responsabilidade, mas isso veio depois. O Ronaldo tinha uma personalidade forte e realmente assumiu o posto de goleiro titular. Ele já vinha treinando muito bem com a gente há tempos. Outro menino com grande potencial, que não deu tão certo, era o Edmundo. Ele poderia ter sido o grande meia canhoto do time. Foi uma pena.
Você tem um bom número de gols com a camisa do Corinthians, principalmente em jogos decisivos. Na fase de grupos final do Paulista, você marcou contra o Santos e o São Paulo. Como era isso pra você?
Então, isso varia de jogador para jogador. Eu sempre fui abençoado nessas horas, pois sempre tive uma vontade a mais de me entregar nesses jogos considerados decisivos. Contra o Palmeiras, por exemplo, ninguém queria perder. Eu me entregava mesmo.
Em qual momento da competição você pensou que o Corinthians, desacreditado no início, poderia ser o campeão?
A caminhada começou ainda em 1987, quando saímos de uma lanterna para um vice-campeonato no Paulistão daquele ano. Foi uma resposta a tudo que passávamos. Quando o grupo quer você vai atrás dos resultados e consegue. Em 1988, o clima antes da decisão era muito favorável ao Guarani, mas o futebol provou mais uma vez que é jogado no campo. Foi o nosso combustível.
Pode contar um pouco sobre o clima do Pacaembu após a vitória contra o Santos e consequente classificação à final?
O clima era de extrema alegria, aquela festa toda no vestiário. Sabíamos que o resultado do Palmeiras era fundamental para avançarmos, mas mais importante do que isso foi tomar consciência de que teríamos que arrepiar e passar por cima do Santos, depois contar com eles.
Como você estava se sentindo sabendo que poderia se tornar Campeão Paulista mais uma vez?
Estava muito feliz com certeza, não tinha como. Os títulos ficam muito marcados sempre na carreira de qualquer um ou histórico de uma equipe. Querendo ou não, acabei ficando muito ansioso antes da partida. Não tem como mentir isso, todos ficam.
Quando você viu o chute sem direção do Wilson Mano indo e o Viola completando pro gol, qual foi a sua primeira reação ou pensamento?
Pensei que teríamos sérios problemas, já que o Guarani viria com tudo pra cima. Foi uma pressão enorme segurar o resultado até o final. Todos estavam muito cansados com a prorrogação. O sufoco foi enorme. Felizmente suportamos e saímos campeões.
Qual foi a sensação de correr para a Fiel depois do apito final?
O cansaço foi embora e a alegria tomou conta de mim. Depois de suportar a pressão do Guarani, eu só queria saber de me jogar nos braços da Fiel. Seguramos o 'rojão' durante a prorrogação, depois foi só festa.
O que significou para você a conquista desse Paulista em 88?
Ficou marcado como mais um título conquistado no estilo guerreiro que caracteriza o corinthiano. Foi diferente de 82 e 83 e parecido com o Brasileiro que veio depois em 90. Em 82 e 83, tínhamos um time que tocava muito bem a bola, era outra qualidade. Em 88, a garra superou tudo.
Mande um recado ao torcedor corinthiano:
Quero mandar um grande abraço para essa torcida maravilhosa. Vamos ser bicampeões do Mundial com certeza. Daqui pra frente serão somente alegrias pro corinthiano. O trabalho atual está sendo muito bem feito. Vai, Corinthians.
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